Nada a ver. Mas ouvindo João Gilberto hoje, pela manhã, fiquei matutando. De olhos bem abertos, bem atentos, observando. Vendo o quanto o olho aparece na má literatura. “Olhou nos meus olhos”, “dentro dos meus olhos”, “olhou fixamente” e por aí vai a cegueira. Isso quando não se diz de boca cheia: “os olhos cheios de lágrimas”, ou “as lágrimas rolavam, caíam dos seus olhos”. Caralho! É de chorar! Como se lágrima brotasse da virilha, putz grila! Se da virilha ela escorresse, talvez desse boa literatura. Ave nossa! É preciso que se diga: vai-se direto à imagem dos olhos porque eles são as janelas da alma. Perdão aqui o lugar-comum, mas é bem isto, creio. O cara usa o “olho”, o “olhar” sempre (isso, quando não abusa da retina) porque com ele pensa provar que enxerga longe, que sente em demasia, que é mestre, assim, em revelar algo mais profundo, a sua visão apurada (no caso, furada) do mundo. Argh! Tô fora. Prefiro pular em outras órbitas. Por exemplo, na bunda. É, na bunda. Podem apostar. Já dizia o poeta, na voz de João Gilberto. “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça / no doce balanço a caminho do mar”. Ele estava falando da bunda, amigos. Da bunda, certo? Não do olhar. Fiquem ligados. O buraco, ora, é sempre mais embaixo.
MARCELINO FREIRE
Desenhos gentilmente cedidos por Gabriel Bá.
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