Nossa, eu tenho inveja de você. Assim: de ter lido todos esses livros. Fico vendo. E desejando. Disse-me um jovem, novinho, com seus quinze anos, um dia, quando viu as minhas estantes.
Retruquei: sou eu quem tem inveja de você. Sabe por quê? Você lerá pela primeira vez livros como Dom Quixote, já leu? Lerá pela primeira vez Jean Genet. Inaugurará as páginas de Garcia Lorca. Terá virgem contato à obra do Rosa, do Graciliano. Adentrará, curioso, o universo kafkiano, clariceano. Descobrirá Bandeira, Drummond. Nascerá em Pessoa sua nova pessoa.
Aleluia, ave!
Entende? Toda vez que vejo alguém à flor da idade, uma criança, lendo pela primeira vez um grande livro, eu me lembro – e invejo – esta sensação: a alma sendo invadida por um furação, o mundo nascendo em nossas mãos, a origem do silêncio, do pensamento, a descoberta desta paixão.
Para uma vida toda que, em você, só está começando.
Boa viagem, garotão.