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Archive for fevereiro \07\+00:00 2012

MULHERES RICAS EM PERIGO

Então a belezinha só toma champanhe? Traz aí, Janjão. Champanhe para a loirinha. Vai, abre a boquinha. E nada de carinha de nojo. Que horror! Foi a melhor que a gente encontrou. Tirou ali, do despacho. Meu amor.

E a outra belezinha, velhinha, respeita mais cachorro do que gente. Vamos ver então se, de repente, o contrário acontece. Traz, Janjão, aquele nosso pit bull, grandão. Que gosta de estraçalhar boneca. Viva. Ignorante este bicho que a gente cria. Putz grila! Quanta falta de educação. Sapeca!

E você, minha querida, diz que pratica tiro, não é isto? Seu esporte predileto. Que beleza! Pois bem: eis ali em frente. Vê se não erra. Acerta bem na cabeça. Você consegue. Não chora, vai. Faz de conta que estamos ao vivo, no programa. Faça o que o seu marido está pedindo. E não reclama.

A gente estava na nossa casa. Quietinho. Vocês é que provocaram a guerra. Ora essa. O que não se faz por audiência? Outras mulheres ricas vão pagar. Na hora em que a gente for sequestrar, roubar, não teremos pena. Vocês serão as culpadas. Podem apostar. Ninguém vai mais nos humilhar. Ouviram? Mais ninguém.

O quê? Hã? Hein?

Quer mais champanhe, é? Fala, desgraçada.

Hello, meu bem.

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PINHEIRINHA

Tem horas em que a gente fica pasmado. Não encontra o poema. O grito fica sem grito. Falta parágrafo. Falo da desocupação do Pinheirinho. Em São José dos Campos em São Paulo. Da ação violenta no mês passado. Truculenta do governo tucano. Faz tempo. Estou formulando a minha indignação. Por enquanto omissa. Calada. Sem forças. A minha prosa pouca. Que merda!

Eis que veio em casa no sábado passado a fotógrafa paulista Laura Aidar.  Companheira do poeta e amigo Thiago Cervan. Que também veio. Os dois tinham ido testemunhar de perto o que restou de Pinheirinho. E documentaram tudo. E ajudaram inclusive a formar barreiras. Resistências.

Um dos flagrantes de Laura é o desta menininha da imagem acima. Neste silêncio. Neste ódio fundo. Desamparo. E incompreensão no coração. Na carne para sempre. A história de um escândalo. Desumano. Essa violação de direitos. Esta vergonha nacional. Meu Cristo! Repito. Faltam-me palavras. Brabas e bubônicas.

Um sentimento que dê conta do que estou sentindo. Desde o começo deste ano. Por dentro. E acabo de encontrar nas fotos de Laura a arma. O gatilho. A pólvora que a gente. A toda hora. Deve espalhar. Sempiternamente. Para as gerações de agora e as gerações vindouras. Não esquecerem deste momento.

A saber: para conferir todas as fotos da Laura acesse aqui. E em tempo: aqui você ainda lê o texto contundente de Felipe Choco. Juntos. Ele e Laura. De alguma forma traduzindo. Esse olhar fundo da menina. Pinheirinha. O silêncio que nos assombra. Busca pela resposta. Urgentemente nos cobra e nos culpa e nos fumina.

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MANOEL À MÃO

Eu tenho uma história um pouco longa de cartas, bilhetes, telefonemas com o poeta mato-grossense Manoel de Barros. Desde 1994. Aos poucos, vou contando esta história aqui. De visitas à casa dele, de troca de ideias, palavras, etc. e tais. Um desses cartões que recebi é este ao lado, o texto vai transcrito logo abaixo. Nele, Manoel comenta meu livro de contos BaléRalé, publicado em 2003 pela Ateliê Editorial, e aproveita para me mandar um microconto, pedido por mim, para fazer parte da antologia Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século, publicada em 2004 idem pela Ateliê. Ave! Grande Manoel de Barros! Poeta querido. Viva e viva!

Campo Grande, 7.2.2004

Marcelino, caro poeta,

Estou lendo e às vezes volto pra reler o BaléRalé. Você destripa a sociedade urbana com essa linguagem-marcelina que ilumina o texto e expõe nossa miséria e até a poesia da nossa miséria. O HOMO ERECTUS que abre o livro é tão rupestre! É um impacto de mestre. Meus parabéns. Estou a terminar o livro. Ele ajudou meu mini conto, que vai abaixo:

Amor

Maria
Quero caber todo em você.

MB.

______

Será que vai servir? Grande abraço de estima e admiração

seu amigo

Manoel de Barros

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PARA IEMANJÁ

Oferenda não é essa perna de sofá. Essa marca de pneu. Esse óleo. Esse breu. Peixes entulhados. Assassinados. Minha Rainha.

Não são oferenda essas latas e caixas. Esses restos de navio. Baleias encalhadas. Pinguins tupiniquins. Mortos e afins. Minha Rainha.

Não fui eu quem lançou ao mar essas garrafas de Coca. Essas flores de bosta. Não mijei na tua praia. Juro que não fui eu. Minha Rainha.

Oferenda não são os crioulos da Guiné. Os negros de Cuba. Na luta. Cruzando a nado. Caçados e fisgados. Náufragos. Minha Rainha.

Não são para o teu altar essas lanchas e iates. Esses transatlânticos. Submarinos de guerra. Ilhas de Ozônio. Minha Rainha.

Oferenda não é essa maré de merda. Esse tempo doente. Deriva e degelo. Neste dia dois de fevereiro. Peço perdão. Minha Rainha.

Se a minha esperança é um grão de sal. Espuma de sabão. Nenhuma terra à vista. Neste oceano de medo. Nada. Minha Rainha.

[ Extraído do meu livro de contos
Rasif – Mar que Arrebenta”,

Editora Record, 2008.
Dedicado aos queridos
Alfredo Dorea, Fabiana Cozza
e Marcelo Mendonça ]

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POEMINHA CONTRA O FIM DA SACOLINHA

O saco do fim da sacolinha é ter de aguentar a cara da minha vizinha. Ecológica. Toda hora em que ela me encontra no elevador. Vamos salvar o planeta. Meu amor. A mesma criatura que leva o cachorro à rua. Vestido de casaco de náilon. A tiracolo. Para fazer cocô.

O saco do fim da sacolinha é ver a bolsa verde que querem que eu compre. Leve para casa. Ridícula. O Dia dizendo que cuida da natureza. Ele que vende linguiça embalada. Americana. Paga uma miséria para a caixa que mora pertinho da Represa Guarapiranga.

O saco do fim da sacolinha é acharem que o serviço está feito e a consciência limpa. Sujeira pequena não precisa empacotar. Ora. Joga-se para debaixo do tapete da cozinha. O meio ambiente agradece a sua forcinha.

O saco do fim da sacolinha é eu não ter mais onde atirar meus papéis fora. Romances. Contos que eu escrevo no calor da hora. Merda que me vem à cabeça. Como agora. Mais este poeminha.

Que saco!

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