Ontem fui ver a peça do Mário Bortolotto, Medusa de Rayban – aliás, sempre falei ao Mário que este é um dos títulos mais bonitos e intrigantes da dramaturgia brasileira e eta porra! Pois bem: ontem, lá, ri que chorei. E eu estava precisando rir. E estamos, pois, precisando rir. De verdade. Porque essa semana não foi fácil. Morte do Chico, morte do Millôr. E a gente anda tão órfão desse riso fácil. De texto assim que nos escancara mas não cospe na nossa cara. Frases que nos denunciam mas não nos humilham. Millôr já dizia: “o humor não foi feito para humilhar ninguém”. Ontem, na peça do Mário, não havia coisa mais divertida. Essa a de assistir aos amigos-atores (impagáveis, todos) se divertindo em cena – com direito a uma “canjinha” do Peréio. O que gosto na maioria das peças do Bortolotto é isso: não se levar demasiado a sério. Tirar uma onda de si próprio, ir levando a vida, numa boa, essa nossa tragédia coletiva. Enfim, assado. Fica aqui o meu recado: a peça só vai até este domingo, na simpática Estação Caneca, à Rua Frei Caneca, 348. No mais, reproduzo abaixo o soneto que o queridamigo Glauco Mattoso escreveu sobre o Chico e o Millôr. E que viva o humor! Fui e abraços gratos e beijo na bunda e até a segunda.
DOIS PHANTASMAS NA RISADARIA
Glauco Mattoso
Millor, meu Deus, morreu! Me telephona
alguem, quer que eu deponha. Eu argumento
que egual foi a Voltaire, porem lamento
não ser o philosophico o que abona.
Tambem com Chico Anysio assim funcciona:
do lado litterario, do talento
de sabio, de humanista, bem mais lento
é o reconhecimento que sancciona.
Drummond, na academia, ja rendeu
milhões de theses. Justo é, reconheço,
mas nobre foi Drummond? Millor plebeu?
Preoccupa-me o demerito, esse preço
que paga um humorista. Tambem eu
sou victima e discipulo… mas cresço!