Feeds:
Posts
Comentários

Archive for março \30\+00:00 2012

VIVA O HUMOR

Ontem fui ver a peça do Mário Bortolotto, Medusa de Rayban – aliás, sempre falei ao Mário que este é um dos títulos mais bonitos e intrigantes da dramaturgia brasileira e eta porra! Pois bem: ontem, lá, ri que chorei. E eu estava precisando rir. E estamos, pois, precisando rir. De verdade. Porque essa semana não foi fácil. Morte do Chico, morte do Millôr. E a gente anda tão órfão desse riso fácil. De texto assim que nos escancara mas não cospe na nossa cara. Frases que nos denunciam mas não nos humilham. Millôr já dizia: “o humor não foi feito para humilhar ninguém”. Ontem, na peça do Mário, não havia coisa mais divertida. Essa a de assistir aos amigos-atores (impagáveis, todos) se divertindo em cena – com direito a uma “canjinha” do Peréio. O que gosto na maioria das peças do Bortolotto é isso: não se levar demasiado a sério. Tirar uma onda de si próprio, ir levando a vida, numa boa, essa nossa tragédia coletiva. Enfim, assado. Fica aqui o meu recado: a peça só vai até este domingo, na simpática Estação Caneca, à Rua Frei Caneca, 348. No mais, reproduzo abaixo o soneto que o queridamigo Glauco Mattoso escreveu sobre o Chico e o Millôr. E que viva o humor! Fui e abraços gratos e beijo na bunda e até a segunda.

DOIS PHANTASMAS NA RISADARIA

Glauco Mattoso

Millor, meu Deus, morreu! Me telephona
alguem, quer que eu deponha. Eu argumento
que egual foi a Voltaire, porem lamento
não ser o philosophico o que abona.

Tambem com Chico Anysio assim funcciona:
do lado litterario, do talento
de sabio, de humanista, bem mais lento
é o reconhecimento que sancciona.

Drummond, na academia, ja rendeu
milhões de theses. Justo é, reconheço,
mas nobre foi Drummond? Millor plebeu?

Preoccupa-me o demerito, esse preço
que paga um humorista. Tambem eu
sou victima e discipulo… mas cresço!

Read Full Post »

TUDO A VER

Um escritor português amigo meu foi quem falou: Portugal tem o Saramago, Chile o Pablo Neruda, Argentina o Borges, Colômbia o Márquez. O Brasil tem a televisão. Isso quando não tem Paulo Coelho. Não. Diz meu amigo: não falo de autoajuda. Falo do romance-exportação. Novel em inglês é romance. Novela em espanhol idem. Já novela, aqui, é a que passa em horário nobre. O pobre fez da TV o seu livro de cabeceira. Diz meu amigo português: sabe por que a internet é tão acessada no Brasil? O Face, o Twitter, não sabe? Porque o brasileiro, no fundo, gosta é de ver TV. Daí o sucesso dos iphones, não se engane. O tempo inteiro estamos “assistindo” a algo. Somos mais telespectadores que leitores. Damos audiência muito mais do que atenção. Não fomos treinados para a concentração. Brasileiro adora o conteúdo pronto. Em movimento. Desistimos há tempo da literatura complicada. Machado de Assis que nada! Dizemos que não temos tempo para abrir uma página. Mas abrimos linques como quem muda de canal. Segundo o meu amigo: por causa dessa cultura televisiva, estamos sendo os primeiros a levarem a sério os e-books, os livros animados, os tablets cheios de efeitos especiais. Eta danado! O Brasil sempre esteve na frente, entende, meu caro? Vocês largaram os livros porque já sabiam o fim deles. A extinção. Alienados, não. Defende o português: antenados é o que vocês são.

Read Full Post »

A SUPOSTA RESPOSTA

Amigos, na quinta-feira passada, dia 22 de março, recebi a mensagem abaixo, via e-mail, do Gerente de Comunicação da TV Cultura, José Fernando Lefcadito Alvares, dizendo o que já sabíamos, etc. e tal. Agradeço a atenção mas continuo a dizer: o programa Entrelinhas começou exatamente como um quadro do Metrópolis. Voltar ao que era (embora a resposta da emissora, como vocês verão a seguir, não assuma o fim da atração – chamando-o de “suposto fim”) e perder o único programa dedicado aos escritores e livros na TV aberta, no momento em que a literatura é pauta e prioridade nacional, não condiz com o papel de uma rede que preze pelo fortalecimento das artes em nosso país. Ave nossa! O debate e a luta continuam. De minha parte, por onde eu for, nas várias viagens que faço pelo Brasil, continuarei lamentando o fato. E, inclusive, modestamente brigando para que a literatura, pelo menos em outras frentes, nunca saia do ar. No mais, fui e vamos que vamos. E aquelabraço grato a todos e salve, salve, amém e saravá!

Mensagem oficial da TV Cultura, via e-mail,
em resposta ao nosso abaixo assinado contra
o fim do programa Entrelinhas:

Caro Marcelino:

Acusamos o recebimento do abaixo assinado endereçado ao presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad, protestando contra o suposto fim do programa Entrelinhas dentro da programação da TV Cultura. Como já  divulgado pela imprensa nos últimos dias, reafirmamos que o Entrelinhas continua sendo transmitido por nossa  emissora,  agora integrado ao Metrópolis, outra atração da TV Cultura que está em processo de reformulação e ampliação. O novo formato do Metrópolis  permitirá, inclusive, que as questões ligadas à literatura, sempre merecedoras de destaque em nossa programação, sejam pautadas diariamente e ganhem ainda maior espaço.

Atenciosamente,

José Fernando Lefcadito Alvares

Gerente de Comunicação

Read Full Post »

POEMINHA PARA O CHICO ANYSIO

Não, chico.
Diz que é não é verdade.

Não faz isto.

Que palhaçada é esta?
Volta, Chico.

Precisamos de você
em nossa casa.

Não nos mate.

Não nos deixe com esses caras 
do stand-up comedy.

Argh!

Vazios e frios.
Tão sem graça.

Precisamos de sua humanidade.

Ficar apenas com essa piada forçada,
com essa realidade burra, amigo,
será de doer.

Cadê você, mestre,
para nos elevar, para nos salvar,
para nos socorrer?

Sabe?

Não aguentaremos por muito tempo
a vida sem você.

Esse humor-horror
em que tudo se tornou.
Essa ofensa pública.

O que fazer?

Puta que pariu, Chico.
Pô!

Ressuscita agora, vai.
Traz-nos de volta a paz,
a arte, o riso.

Repito:
vai ser difícil ficar por aqui
tendo de ouvir esses caras
do stand-up.

Meu Cristo!
Estamos sozinhos.

Chico, por favor.

Ficamos todos órfãos,
pobres demais.

Tristes,
sem seu humor-amor.

Read Full Post »

ZOOLÓGICO

Está com dificuldade de começar um conto, de encontrar a primeira frase de um romance, o início de um poema? Então vejamos: mate um tigre, cace uma onça, atropele uma vaca. Despene uma galinha, estrangule uma cabra. Cape um cachorro, moleste um gambá, dê um beijo em uma hiena. Valerá a pena, como ponto de partida: abraçar uma girafa, sonhar com um elefante. Inicie o romance – não importa a ideia que você tenha – fugindo de uma zebra, correndo atrás de uma tigresa, subindo em uma árvore com a mesma esperteza de um macaco. Experimente voar ao lado de um urubu, de uma garça, no ritmo de uma gaivota. Asse um pombo, ora. Crucifique uma cigarra. Mate a cobra, mostre o pau, fuja de um pônei, chore a morte da bezerra, meu caro. Morda um tiranossauro. Entre nesta viagem. Investigue a natureza. Tão virgem, tão selvagem. Vá fundo, e sempre, no coração da linguagem. Eta danado! Por hoje o recado está dado. Fui e aquelabraço.

Read Full Post »

ENTÃO ATÉ AMANHÃ, MANUEL

A TV Cultura respondeu ao nosso Abaixo Assinado Contra o Fim do Programa Entrelinhas.

Mas atenção: ela não respondeu via carta, via e-mail, nenhum telefonema foi dado – por enquanto.

A resposta veio na própria tela da TV Cultura.

Eta danado!

Você viu?

Desde segunda-feira, o Metrópolis passou a ser exibido à meia-noite e meia. 30 minutos de duração – onde todos os programas recentemente extintos terão que se espremer para caber na mesma atração.

A nova apresentadora do Metrópolis será Marina Person e ela estreará no lugar do Cadão Volpato (que estava realizando um brilhante trabalho) só a partir de abril e, com ela, o programa ganhará mais 15 minutos, em um total de 45.

Meu Cristo!

No ar, no entanto, já dá para sentir o que virou o Entrelinhas. Um bloquinho de 6 minutos, com o crítico  Manuel da Costa Pinto, direto do estúdio, comentando algum lançamento, fazendo uma crônica de um livro, de um autor, etc.

Cena profundamente melancólica. Essa, a de testemunhar a falência da literatura na TV Cultura. Ave nossa! A ordem, ao que parece, é “menos poesia”.

A apresentadora interina Adriana Couto, na segunda passada, ao fim da fala do Manuel, disse, com requentado entusiasmo: “Então até amanhã, Manuel”.

Como quem dá uma desculpa ao mendigo de rua, “hoje não tenho, hoje foi pouquinho, ah, amanhã tem mais, volte outro dia”.

Read Full Post »

AOS 45 ANOS

Agora uso óculos. Estou perdendo cabelos. Sem paciência. Um pouco cansado. Não tive filhos. Não sou casado. Vivo em São Paulo há quase 21 anos. Sete livros publicados. Muitos quilômetros rodados. Não sei dirigir carro. Ando só de bicicleta. Mas não ando de bicicleta em São Paulo. Caminho pouco. Não faço ginástica. Todo o meu trajeto é perto de casa. Coordeno oficinas literárias. Vivo apenas de literatura. Minha renda vem direta e indiretamente dos livros. Leio mais à noite. Durmo tarde. Gosto de cerveja. De frango à milanesa. De creme de milho. Sou teimoso. Detesto injustiças. Sou filho de Xangô. Vou à luta. Sou preguiçoso. Tenho muitos amigos. E poucos irmãos do peito. Muito me aborrece a pão-durice. Cada vez mais longe de gente mesquinha. Sinto falta dos meus pais. Tenho dezenas de sobrinhos. Sou o caçula de nove irmãos. Um deles já falecido. Estou pesando 93 quilos. Um metro e 81 de altura. Não estou escrevendo livro novo. Desde julho passado só terminei dois contos. Já estou fazendo anotações para a Balada Literária 2012. Evento que coordeno desde 2006. Gosto de agitar outras frentes. Não sei cozinhar. Almoço fora todo dia. Raramente janto. Vejo pouco TV. Perdi o medo que tinha de sapos. Estou sempre preparado para o que der. E para o que não vier. Esta foto aqui foi tirada há pouco mais de uma hora. Exatamente no dia 20 de março. Data em que faço 45 anos de idade. Agradeço esse meu jeito aéreo. Todo dia eu rezo e apelo para as forças que me restam. E continuo na teimosia. Não fujo nem espero. O resto sai na purpurina. Beijos carinhosos a todos que me ligaram. Àqueles que me enviaram mensagens de parabéns. Ave! Meu especial abraço. E vamos que vamos. Aos próximos anos. Comigo ao meu lado. Sempre em frente. Sempre além. Fui. Salve. Salve. Saravá. Amém.

Read Full Post »

OUTRA MULHER

Chavela Vargas.

Outra mulher que eu gostaria de ser (foto ao lado).

Veio-me esse assunto outra vez, não sei por quê.

É que escutei muito a Chavela neste domingo, às vésperas do meu aniversário (dia 20). Delicioso inferno astral. De cortar os pulsos e a alma.

Rarará.

Chavela é de Costa Rica, embora seja naturalizada mexicana.

Que vida a dessa mulher! Fez enorme sucesso e, quando estava no auge da carreira, sumiu do mapa. Anos depois, foi encontrada mendigando nas ruas do México. Voltou à carreira e ao auge. Quando ninguém esperava mais novidades dela, assumiu, perto dos 90 anos (ela está com 93) a sua homossexualidade.

Eta danado!

Se você não conhece o poder da voz e da interpretação dessa grande artista – por causa da saúde debilitada, não mais viaja, nem grava, nem se apresenta -, assista à interpretação (reza) dela, no linque abaixo, para o clássico latinoamericano “Llorona”.

De arrepiar!

Viva Chavela Vargas e vamos que vamos e salve, salve e fui e saravá!

Read Full Post »

ENTRELINHAS DO PROTESTO

Não.

Não fui recebido por João Sayad em sua ampla sala na TV Cultura. Não era o que eu pleiteava. Muito menos o que eu esperava.

Conversei com a secretária dele durante a semana. E ficou combinado de que uma pessoa, da Fundação Padre Anchieta, seria designada para receber o nosso abaixo assinado contra o fim do programa Entrelinhas e encaminhá-lo, imediatamente, às mãos do diretor-presidente.

Há pouco, na hora combinada, estive eu lá na sede da emissora.

O protocolo de entrega você vê aqui (primeira imagem). Agora, é aguardar a resposta.

Embora hoje, na coluna Sem Intervalo, de Cristina Padiglione, do jornal O Estado de S. Paulo, tenha saído nota (veja imagem abaixo) sobre o nosso protesto e uma resposta pronta da TV Cultura, que não me convenceu. Alegam eles que o programa Entrelinhas “ganhará mais espaço do que tem hoje, ao deixar de ser um programa semanal de 25 minutos de produção para virar quadro de 6 minutos diários no Metrópolis, que será repaginado”.

Mas ora…

Antes de virar um programa, o Entrelinhas começou exatamente como um quadro do Metrópolis. Daí virou um programa único, de prestígio, que era exibido desde 2005. Fazê-lo, mais uma vez, um pequeno quadro diário é tirar a sua força e diluir a importância de termos todo um programa, único na TV aberta, dedicado aos livros.

E, cá para nós, como “repaginam” o histórico programa Metrópolis, Meu Cristo!

Enfim.

Coisas e coisas passam pelo meu juízo.

Aguardemos, repito, o pronunciamento oficial do João Sayad. Avisarei assim que eu tiver notícias.

No mais, não posso deixar de agradecer à escritora Luciana Penna, que me ajudou, de forma afetiva e efetiva, na organização de tudo isto. E de agradecer, é claro, a todos e todas, de vários lugares do Brasil, que assinaram e divulgaram esse nosso protesto (aliás, para saber e continuar assinando e espalhando por aí, clique aqui em cima).

Valeu e rezemos ao Senhor.

Bom final de semana e vamos que vamos e aquelabraço, com amor.

Fui, sem ir.

Read Full Post »

NOSSO PROTESTO CONTINUA

Amigos todos, nosso protesto continua. Ainda temos tempo de receber a sua assinatura no abaixo assinado contra o fim do programa Entrelinhas, da Cultura. O único, na TV aberta, dedicado à literatura. Agradeço a todos que até agora subscreveram o nosso movimento. Mas estou ainda à espera de seu apoio. Amanhã, sexta, irei à Fundação Padre Anchieta entregar o documento e perguntar, por exemplo, se eles não têm um horário, na extensa grade de programação, para continuar celebrando os livros, os leitores, os clássicos e os novíssimos autores? Ave nossa! No mais, repito, estou esperando a sua participação e, sobretudo, a sua divulgação. Para saber como faz, clique aqui em cima. Estamos juntos. Deixo o meu abraço a todo mundo. E vamos que vamos em frente. Eta danado. E fui.

Read Full Post »

Older Posts »

%d blogueiros gostam disto: