No final da vida, meu pai chorava por qualquer coisa: quando vinham gatos fantasmas visitá-lo. Sim. Bichanos de outro mundo. Ele chorava. Pelos cantos. Quando ouvia passarinhos. Quando batia uma saudade de Luiz Gonzaga.
Na chegada e saída dos netos. Em silêncio débil ele chorava. Ao terminar o banho. Cheio de loção. Ao abraçar minha mãe à cabeceira. À ponta da mesa. Ele tremia e chorava. Meu pai virou um velho chorão. No final da vida. Desmanchava-se.
Porém, me lembro bem. A primeira vez em que vi meu pai chorar. Em que ele, na verdade, se engasgou. Ficou um vazio na voz. Porque meu pai foi um senhor duro. Embora bem-humorado. Um senhor de outro tempo. Sem abraços demorados. Nem derramamentos.
Isto faz 21 anos hoje. O dia em que meu pai chorou. Por dentro. A hora em que peguei as malas. Soquei no automóvel. Dei a meia-volta para beijar os parentes. Todos ali, reunidos em minha despedida. Eu de partida decisiva para São Paulo.
Caminhei em sua direção. Para agradecer por tudo o que ele me deu. Tudo o que eu estava levando comigo. Repito: àquela manhã de uma quinta-feira, dia 11 de julho do ano de 91.
Meu pai, ali, diante de mim, não conseguiu dizer uma palavra. Apertou-me a mão. Olhou nos meus olhos. Feito um amigo que nos olha. Com amor. Meu pai me amava. Todo em sua dor. Silenciosa.
E me respeitava, profundamente. O filho caçula que ganhava o mundo. A quem ao mundo ele entregava. Para sempre.