Você não entrou na Granta? Vieram me perguntar. Agradecido fiquei com o interlocutor. Achar, assim, que eu não passei dos 40 anos. Que eu tenho ainda menos de 45. Maravilha e lindo, lindo!
Sobre a Granta, é bom que se diga, já estou velho. De muleta. Confesso que, se eu tivesse idade, faria como a Veronica Stigger, juro. Não entraria em disputa (disse ela à Folha de S. Paulo de hoje). No meu caso, eu faço literatura exatamente por isto. Porque não estou em processo seletivo, à cata de emprego.
Para quem não está por dentro do assunto, eu resumo: a polêmica da vez são os vinte eleitos pela revista britânica Granta como os “melhores jovens escritores brasileiros”. Inscreveram-se 247 mancebos e mancebas. A revista rodará o mundo. Fico contente pelos amigos que lá estão. Merecidamente.
Acho que os escolhidos têm mesmo é que comemorar. E mãos à obra e saravá! Só não posso aceitar que este seja o único recorte possível. Eu que vivo viajando pelo Brasil e encontrando gente muito boa, longe do convencional e vigorosamente produzindo. Nas periferias e em tudo que é esquina.
Se há um receio é este: a preguiça de curadores e professores e jornalistas e editores daqui e de outros países. Pegarem (e pregarem) a revista como verdade absoluta. E ao pensarem nos jovens autores do Brasil não pensarem em mais ninguém além.
Fodeu! E fodeu ainda mais se os próprios jovens escritores (a grande maioria que ficou de fora) aceitarem o livro como veredicto definitivo. Ave nossa!
Mas o problema não é meu e nem da Granta. A revista fez o que julgou certo. O caso é você aí, meu caro, fazer suas próprias antologias e movimentos. Escrever, escrever, escrever. E não parar quieto.
Aliás, eu e o Vanderley Mendonça, da minúscula Edith, fomos procurados para criar uma alternativa à seleção da Granta. Não faremos isto.
Repito: mesmo que não pareça, estou velho. E ser velho cansa. Já ando aprontando um bocado faz tempo. Meu tempo agora é outro. Na estrada. Correndo à cata de meus poucos (e verdadeiros) leitores. Assim, na raça. Eis o caminho. Para aquela, a da Granta.
Ou para qualquer que seja a cara da moçada.