Acabei de ler o novo livro de Analu Andrigueti. Mais uma bela e inusitada edição da Publicações Iara. O livro é igualmente de poemas. Chama-se 36 Poses. Vem em formato daqueles álguns baratinhos que a gente ganhava, da Fotótica, para colocar as fotos. Nos sacos plásticos. Nada mais apropriado para as palavras de Analu. Invólucros. Camisinhas. Flagrantes a olho nu. Memórias de trepadas. Closes nos corpos. Sem pudor. Analu melhorou o que vinha fazendo (seu primeiro livro é o A Matadora de Orquídeas, de 2010, pela Edith). Ela está soltando e afrouxando cada vez mais o verbo. Não tenho visto, ao certo, quem esteja fazendo a poesia que ela anda fazendo. Eu me lembro, quando a leio, do mesmo impacto que tive quando vi os contos do livro Falo de Mulher, de Ivana Arruda Leite. Ambas bebem na mesma fonte. Sentam, ao lado dos homens, no mesmo divã, onde tornam públicos os seus (nossos) desejos. Vejam três desses poemas abaixo. E aquelabraço.
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Quando vi o pau de Cleiton
lembrei da origem da alcunha:
tronco grosso, maciço, rijo.
Madeira nobre, castanha, lenhosa.
Aquilo é pau. O resto é pinto.
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Na minha memória
você era bem mais homem.
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Um calor infernal.
Nus, no quintal, bebendo cerveja morna.
O ventilador com o fio esticado, vindo da cozinha,
não dava conta.
Zunia, zunia.
Ela ruiva, gringa, sardenta
acendeu um baseado
na Vila Madalena.
Ele negrão de pau GG
desfilava músculos moldados na capoeira.
Ela nunca tinha visto o Cruzeiro do Sul
nem dado o rabo.
Viu estrelas.
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