Eu não sabia que conhecia faz o tempo o poeta José Chagas. Já tinha ouvido, quando adolescente, seus versos cantados pelo Quinteto Violado. Falo do poema “Palavra Acesa”, escrito em 1965. Exemplo clássico de como burlar a censura: “Pra ti amada” se confunde com “Pátria amada” (leia abaixo). E o recado foi dado. Lindo, lindo! Redescobri e relembrei da canção porque acaba de sair um tributo ao poeta paraibano (radicado em São Luís do Maranhão) de 88 anos. Um CD reunindo seus poemas musicados e, nesse volume (imagem acima), interpretados, entre outros, por Ednardo, Márcia Castro, Chico César, Silvério Pessoa, Fernando Filizola, Fagner, Celso Borges e Zeca Baleiro – esses dois últimos, produtores do trabalho (lançado pela Saravá Discos). Porreta e oportuno. E vamos que vamos e aquelabraço. Em tempo: e acabei de saber que, pela primeira vez, a musa da contracultura, a lendária Joan Baez, virá fazer show no Brasil em março. Ela que foi proibida, pela ditadura militar, nos anos 80, de cantar em nossas terras. Imperdível! Salve, salve, amém e saravá! E bora embora nessa.
–
PALAVRA ACESA
Se o que nos consome fosse apenas fome
Cantaria o pão
Como o que sugere a fome
Para quem come
Como o que sugere a fala
Para quem cala
Como o que sugere a tinta
Para quem pinta
Como o que sugere a cama
Para quem ama
Palavra quando acesa
Não queima em vão
Deixa uma beleza posta em seu carvão
E se não lhe atinge como uma espada
Peço não me condene oh minha amada
Pois as palavras foram pra ti amada
Pra ti amada
–