Faz tempo que o poeta Binho e o Serginho Poeta criaram a profética expedição Donde Miras, uma caminhada cultural pela América Latina (imagem acima). Explico: no ano de 2010, um grupo de artistas da periferia de São Paulo resolveu percorrer a América Latina a pé. Fazendo saraus e lançamentos. Conhecendo artistas pelas cidades visitadas. Eta danado! Conseguiram, à época, ir de São Paulo a Curitiba. A ideia era atravessar a fronteira. Ficou para mais tarde a vontade guerrilheira. Muita coisa ainda precisava ser feita pelo Brasil. E fizeram. Muita história eles têm para contar. Isso eu digo só para avisar de que hoje, quinta, começa a Feira do Livro de Buenos Aires. 97 escritores da periferia, incluindo o Binho e o Serginho, invadirão a Argentina. Com a força de sua poesia, de sua arte, de sua palavra. Oxalá, até que enfim, salve, salve! É a primeira vez em que eu vejo uma revolução assim acontecer. E muita justa. A saber: sempre que são realizadas feiras e festas pelo mundo, raramente são convidados os artistas da periferia. Recentemente, inclusive, na Folha de S. Paulo, saiu um balanço, no caderno Ilustríssima, discutindo como anda a nossa literatura contemporânea. E, na matéria, nenhuma linhazinha sequer para os passos que esse movimento, já faz quase quinze anos, tem dado para tirar a literatura do alto das estantes. Das rodas regadas a biscoitos e chás. A cena literária em São Paulo, se depender deles, se dá de forma vigorosa e viva. E maravilha! Sempre que posso, eu testemunho e acompanho essa luta, constante, dos amigos da periferia para afugentar o ranço que a literatura tem. Esse de ser coisa chata. Palavra escrita para poucos e para ninguém. Muito pelo contrário. Em vez de ficar esperando a boa vontade de editores e críticos, eles criaram seus próprios selos. Festivais, CDs, antologias, ensaios. Celebram, pois, a poesia todo dia, formando leitores e cidadãos. Há duas semanas, aliás, alguns jornalistas portenhos visitaram São Paulo para conferir de perto esse acontecimento. E já estão repercutindo o que viram em seus cadernos e suplementos culturais. Saíram daqui boquiabertos, etc. e tais. Com essa lição de uma literatura sem frescura. De uma postura, digna e desencastelada, que chega, na raça, e modifica a geografia em volta. Avante e teimosamente. Posso dizer: é histórico, desde já, o que irá acontecer, a partir de hoje, em Buenos Aires. E, sinceramente espero, que ação assim inspire outras feiras e eventos pelo mundo. No ano que vem, por exemplo, o Brasil será o país homenageado no Salão do Livro de Paris. Acordem, senhores curadores. Rumando está, desde já, para outros cantos, esta invasão que hoje começa. Plural, sem igual. Na fé, feliz.
Em tempo: o título acima foi extraído de um famoso poema de autoria de Binho. E aproveitando, aviso: estarei na Feira do Livro de Buenos Aires no dia 9 de maio, em mesa ao lado do querido parceiro, guerrilheiro e amigo Ferréz. Valeu, fui, sem ir, e até.