Aí o menino quer matar o Papai Noel. Em plena noite de Natal. Em Natal. Aí tem uma outra menina, raquítica, que quer ser Xuxa. Mas a Xuxa está velha, diz a mãe da menina. Xuxa, nem a Globo quer mais, minha filha. E há uma família inteira contra a paz. Cansada de guerra. Que só estoura para um mesmo lado. A culpa é da paz. A culpa é de Deus. Consciência é coisa de rico. Gritam os meninos. Endiabrados. Com pistolas na mão. E rodos de limpar vidros de carro. É um assalto, um assalto, um assalto. Ao lado da igreja. No mês do aniversário de Jesus. À praça do bairro Esperança. Nenhuma esperança. Explico: para quem já leu alguns de meus contos, sabe onde estão esses personagens. Para as páginas de meus livros eles pulam. E agora pulam aos palcos. Mais uma vez. Sob a direção de Marcondes Lima. Ele que já havia posto em cena outros textos meus no Recife. Na peça “Angu de Sangue”. Na peça “Rasif”. Ele foi convidado para dirigir, agora, a Bololô Cia. Cênica. Fui lá assistir. Isso: em Natal. Aberto ao público. Alguns, da platéia, achando que iriam ver algo mais pacato. Sininhos que dobram. Anjos que anunciam a chegada do Senhor. Nada disso: policiais armados. Tiros para todo lado. Em referência doída ao bairro da Ribeira, onde o grupo está sediado. Seus personagens estão lá, sediados. Eles me falaram. Nas ruas da Ribeira. Em toda parte. Há quem já tenha criticado o espetáculo. Dezembro é mês de festa. É data cristã. Por que não elevar o pensamento? Pensar em um melhor amanhã? Ora. E não é o que Bololô está fazendo? Não deixa de ser um verdadeiro pensamento de comunhão. Este. O de mostrar às famílias ali, reunidas, que a realidade só vai melhorar se a gente tomar consciência dela. Quando o mundo se irmanar em um só mundo. Possível. É de amor o que a peça fala, sim. Pela falta de amor, escancara a nossa carência. Urgência de afeto. Exigência de solução. É vendo o nosso irmão que nos reconhecemos na queda. Estamos todos juntos. E solidários. À mesma margem. Não adianta enfeitar de luzes a cidade. Maquiar de bonecos natalinos a paisagem. É preciso lembrar: Papai Noel existe. Mas chegará para poucos. Isso se conseguir chegar. Vivo. Ao seu. Nosso destino. Em tempo: vale ressaltar a vigorosa atuação do grupo. Todos entrosados, entregues ao trabalho sério. E corajoso. Original, mais uma vez, a direção de Marcondes, com a assistência de Cerone Pontes. A carpintaria da dramaturgia, certeira, unindo e recriando alguns dos contos, ficou por conta do jovem e talentoso Rafael Barbosa. E a trilha, eta danado, está primorosa. E os vídeos. E figurinos. E tudo o mais. Visceralmente “luminoso”. Igualzinho ao ano de 2015. Pelo menos é o que desejo. Apesar dos pesares. A todas e a todos. E atenção, fiquem ligados: a peça “Margem Ribeira” continuará em cartaz até o final de dezembro. Lá em Natal. Feliz uma cidade que tem um espetáculo assim. Eta danado. Feliz Natal!
MARCELINO FREIRE
Desenhos gentilmente cedidos por Gabriel Bá.
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