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Archive for maio \29\+00:00 2020

PAULA ANACAONA

Amanhã, sábado, dia 30 de maio, às 16 horas, ela vai estar ao lado de duas autoras e um autor que ela publicou na França.

Ela é a parisiense Paula Anacaona.

O sobrenome Anacaona vem de uma heroína haitiana.

Há dez anos, Paula criou a editora homônima, que publica muitos brasileiros e brasileiras por lá.

Ela, também tradutora, é escritora e estreou no ano passado com o romance Tatu, publicado aqui no Brasil pela Editora Nós.

O catálogo de sua editora, que ela defende como “plural”, “engajado” e “diverso”, traz nomes como os de Conceição Evaristo, que estourou na França pelas mãos de Paula. Além de Jarid Arraes e Djamila Ribeiro.

E, no começo, foi a Anacaona quem publicou Paulo Lins, Ferréz, Raimundo Carrero, Rodrigo Ciríaco. E idem o meu Nossos Ossos.

Escritores e escritoras que, pela temática ou pela linguagem com que trabalham, dificilmente encontrariam quem os publicasse.

Paula publica. E briga para divulgá-los.

Hoje, é cada vez mais reconhecida nos salões de livro, pelas feiras. Na luta constante para que a literatura de resistência continue reexistindo.

Por isto: ao lado exatamente de Conceição Evaristo e de Jarid Arraes, é que neste sábado, repito, às 16 horas (e não às 18 horas), estaremos juntos para um bate-papo no facebook do Centro Cultural b_arco.

Um encontro imperdível.

Antes, eu pedi que Paula Anacaona respondesse, com uma única palavra, a cada pergunta que enviei. Seguem as respostas abaixo.

E a minha gratidão a essa grande guerreira e aquelabraço.

*

COM A PALAVRA: PAULA ANACAONA

[1] Uma palavra difícil?
Resposta: DIFICÍLIMO.
[2] Uma palavra intraduzível?
Resposta: BOLSONARO.
[3] Uma palavra que só existe para você?
Resposta: SURYA NAMASKAR.
[4] Uma palavra universal?
Resposta: DESCOLONIALISMO.
[5] Uma palavra que explique o que está acontecendo?
Resposta: GEORGE FLOYD.

*

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OS BEIÇOS DE GRACILIANO

E meu texto sobre o uso recorrente do “enorme” na obra de Graciliano Ramos continua repercutindo (leiam o texto lá embaixo, mais adiante).

O jornalista Rodrigo Casarin, em seu podcast Página Cinco, destacou o assunto nesta edição aqui que está no ar.

Com direito à descoberta de Casarin acerca de outra palavra de estimação do autor alagoano. Eta danado!

Até onde se pôde contar, Graciliano usa 22 vezes a palavra “beiços” no livro Caétes e 11 vezes a mesma palavra no livro S. Bernardo.

Estamos ficando todas e todos obcecados.

Aqui ainda falarei, uma outra vez, sobre o uso da palavra “infância” na poesia do Manuel Bandeira, a palavra “triste” na obra de Lima Barreto e a palavra “fome” na obra de Carolina Maria de Jesus.

Ainda estou contando.

Salve e salve, até segunda que vem e vamos que vamos.

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PARA PENSAR ANDANDO

MAS

Dois autores, faz tempo, me fizeram pensar no uso da conjunção adversativa “mas”. Toda vez que uso, na fala, não na escrita, penso no poema acima do mestre Francisco Alvim.

E penso no trecho abaixo do livro Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire.

Aliás, um dos meus orgulhos recentes é ter gravado dois áudios-livros de Paulo Freire, o Pedagogia da Autonomia e o Pedagogia do Oprimido. O primeiro deles já está no ar. Clicando aqui vocês podem conferir uma amostra da leitura.

No mais, vamos abaixo ao que Freire fala sobre o uso do “mas” e, pela casa, andando para lá e para cá, é o momento de refletirmos juntos.

Beijos a todas e todos, fiquem bem, e até o próximo assunto.

*

Torno-me tão falso quanto quem pretende estimular o clima democrático na escola por meios e caminhos autoritários. Tão fingido quanto quem diz combater o racismo, mas, perguntado se conhece Madalena, diz: “Conheço-a. É negra, mas é competente e decente”. Jamais ouvi ninguém dizer que conhece Célia, que ela é loura, de olhos azuis, mas é competente e decente. No discurso perfilador de Madalena, negra, cabe a conjunção adversativa mas; no que contorna Célia, loura de olhos azuis, a conjunção adversativa é um não-senso. A compreensão do papel das conjunções que, ligando sentenças entre si, impregnam a relação que estabelecem de certo sentido – o de causalidade: “falo porque recuso o silêncio”; o de adversidade: “tentaram dominá-lo mas não conseguiram”; o de finalidade: “Pedro lutou para que ficasse clara a sua posição”; o de integração: “Pedro sabia que ela voltaria”, não é suficiente para explicar o uso da adversativa mas na relação entre a sentença “Madalena é negra” e “Madalena é competente e docente”. A conjunção mas, aí, implica um juízo falso, ideológico: sendo negra, espera-se que Madalena nem seja competente nem decente. Ao reconhecer-se, porém, sua decência e sua competência, a conjunção mas se tornou indispensável. No caso de Célia, é um disparate que, sendo loura de olhos azuis, não seja competente e decente. Daí o não-senso da adversativa. A razão é ideológica e não gramatical.

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10 RAPIDINHAS

[1] Está no ar um belo especial feito em homenagem à Mercearia São Pedro. Com depoimentos emocionantes e emocionados de Marquinhos Benuthe, que fundou o bar mais literário de São Paulo.

[2] A homenagem veio de Jéssica Balbino e Tadeu Rodrigues, os dois à frente do inconfundível podcast “Rabiscos”. Para ouvir, acessem aqui.

[3] Outro podcast que está no ar é uma entrevista com o ator, diretor e escritor Rodrigo França, com quem sempre aprendo e apreendo.

[4] A conversa, tocada por Paulo Azevedo, vocês podem conferir clicando aqui em cima.

[5] E um podcast sempre movimentado é o “De Modo Geral”, com condução de Paulo Scott e companhia. Ouçam o mais recente bate-papo, com as participações de Mariana Salomão Carrara e José Almeida Júnior, aqui.

[6] E ontem, na sessão de jazz comandada por Mário Bortolotto (foto acima), entre as novidades ele anunciou que está aproveitando a quarentena para terminar um romance.

[7] Ainda sem título, o livro fala do período em que Bortolotto passou por um seminário. A primeira vez em que ele trata diretamente dessa sua fase da vida e eta danado!

[8] Na mesma sessão de jazz, Reinaldo Moraes leu trecho de romance inédito. O livro que fecha a trilogia começada com Pornopopeia.

[9] E aproveitando: na nova edição da RevistaRia, tem texto inédito do Bortolotto e entrevista com ele idem.

[10] Para acessar a revista da Livraria Ria, cliquem aqui em cima. E mais não digo. Que hoje o dia na quarentena está agitado. Fiquem em casa. Fiquem bem e beijabraços.



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O PODER DAS VÍRGULAS

UM:


DOIS:

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ENSAIOS DE IMPROVISO

*

LIVRO É SEMPRE UM PROBLEMA

Resolva o meu problema, ele pede. Daí a gente ajuda, é ou não é? É feito carro enguiçado. Eu, que não sei dirigir, presto socorro na hora de subir ladeira. Oriento. Mais para cá. Segura o pé, segura o breque. De olho na ré, na ribanceira. Se o problema for gasolina, a gente abastece. O melhor é não parar. É dar um gás. Aí a gente consegue montar o livro. E o problema vira outro. Para qual concurso mandar? E se eu não ganhar? Melhor mandar o original em um envelope diferente, o que acha? Nem branco, nem creme. Azul, mostarda. E você manda em pasta dourada. E não ganha. Daí bate no juízo a síndrome de gênio incompreendido. Ninguém me lê. Desisto. Para qual editora enviar? Algum amigo seu, por favor, será que poderia me publicar? A gente, de vez em quando, confiante mais do que o autor, fala para um editor. Pede uma atenção. A resposta demora. Mais um problema à vista. A cobrança vem justo parar no seu ouvido. Não seria o caso de telefonar? E se eu fosse lá, pessoalmente? Tenha paciência, a gente diz, paciente. Não seja o chato ou a chata que invade Facebook, descobre o whats do Schwarcz da Companhia. O endereço direto da Nós, da Todavia. Você manda, desesperado, PDF para tudo que é escritor, o escambau. Se for possível, dá uma olhada no meu original. Sem retorno. O inferno, caralho, são os outros. Quando você está pronto para fazer uma besteira, aparece alguém para publicar seu livro. Meio a meio. Tudo bem, desde que eu mesmo faça a capa. Porque além de escritor, você, é claro, se julga um grande ilustrador. Até diagramador. E a problemática aumenta. O desenho que você imaginava ficou um cocô. Tem ainda salvação? Quem chamar para escrever a orelha? E o prefácio? E o a gente literário? E o tradutor? E a distribuição? Por que meu livro não está na estante mais alta? Os prêmios, como fazer, me ajuda, meu irmão. Nenhum jornalista quis saber da minha obra. E agora? Antes de se sentir um completo fracassado, chega a você uma primeira reação. Um primeiro leitor elogia o seu trabalho. Surge, enfim, o tão sonhado resenhista. Você agradece. Mas já avisa. Tenho um outro livro pronto, engavetado. Muito melhor do que este que você leu. Quer dar uma lida? Quebra para mim, por favor, vai, esse galho. Fodeu.

*

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9 RAPIDINHAS

*

[1] A postagem de ontem sobre o uso do adjetivo “enorme” na obra de Graciliano Ramos repercutiu bastante.

[2] Ricardo Ramos Filho, escritor e neto de Graciliano, comentou que a minha observação é um achado (e uma novidade) para os estudos da obra do autor de Vidas Secas. Eta danado!

[3] A editora e crítica literária Luciana Araújo Marques até levantou números. Até onde ela pôde apurar, a palavra “enorme” aparece 9 vezes em Vidas Secas, mais de 30 em S. Bernardo, umas 30 em Infância, quase 50 em Angústia e mais de 100 vezes em Memórias do Cárcere.

[4] Por falar em Luciana, exatamente hoje, sexta, às 18 horas, ela conversará com Talita Mochiute sobre as infâncias de Graciliano Ramos e de J. M. Coetzee. É só acessar no seguinte Instagram: @talitamochiute.

[5] E hoje eu participo de duas lives. A primeira é com o poeta Márcio Vidal às 20h30 via Facebook de Celso Giannazi. E depois, às 22 horas, a conversa é com o ator Sidney Santiago Kuanza, que tem feito umas lives imperdíveis. O acesso é pelo Instagram: @sidneysantiagokuanza

[6] E amanhã, 18 horas, não esqueçam de que o convidado da minha série “Entocadxs” é o escritor Valter Hugo Mãe. O bate-papo, como sempre, será via Facebook do Centro Cultural b_arco.

[7] Na terça que vem, 21 horas, a convite de Mário Bortolotto, eu participo, ao lado de vários convidados, da sessão especial do “Jazz Poetry”, uma apresentação de textos autorais ao som de jazz. Para assistir o ingresso é 15 reais, e com isso estaremos apoiando a manutenção do teatro Cemitério de Automóveis. Mais detalhes na imagem acima.

[8] E a nova edição da Revista da Livraria Ria entrará no ar na segunda que vem. Fiquem ligados e ligadas.

[9] No mais, fiquem em casa. Venceremos logo essa batalha. Cuidem-se e abraços e beijos na bunda e até segunda.

*

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PARA PENSAR ANDANDO

UM GRACILIANO ENORME

Aí aqui, andando pela casa com os livros de Graciliano Ramos debaixo do braço, todos eles em uma mesma rara coleção, revejo Vidas Secas, S. Bernardo, Infância, Angústia.

Puxo pelas primeiras imagens que me vieram dos personagens. Pelo cheiro da primeira leitura, agora renovado. Cheiro guardado entre as páginas, lá do passado.

E me vem à vista um apontamento antigo, sobre “a palavra de estimação”. Há uma, sempre. Eu sempre falo. Aquela palavra que o escritor ou escritora carrega consigo. Volta e meia, em sua obra, a palavra salta.

De Graciliano, anotei a recorrência do adjetivo “enorme“.

Vejamos, na prática:

Em Vidas Secas: “Baleia queria dormir. Acordaria feliz num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”

Em S. Bernardo: “Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos diferentes dos nervos dos outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme, dedos enormes.”

Em Infância: “Achava-me numa vasta sala, de paredes sujas. Com certeza não era vasta, como presumi: visitei outras semelhantes, bem mesquinhas. Contudo pareceu-me enorme. Defronte alargava-se um pátio, enorme também, e no fim do pátio cresciam árvores enormes.”

Esse trecho aí do livro Infância creio que explique o uso constante. Vem, então, do olhar da infância do escritor. Para ele, era tudo grande, e tudo enorme.

Palavra que Graciliano escolhe para não perder de vista, em sua escrita, o que ele, ainda menor, fixou. O mundo, tão imenso, ao redor. O que ocorre com os olhos miúdos de cachorra Baleia. E com os olhos acovardados e apequenados de Paulo Honório em S. Bernardo.

Verifico.

O “enorme” aparece também em outros livros. E fico pensando qual a palavra que trago comigo de longo tempo, hein?

Talvez seja o “hein”, seguido de interrogação. Eu uso muito, em meus textos, uma recorrente interrogação, enorme.

Mas isso é só um comentário. Quem sou eu, diante de Graciliano Ramos, Deus Meu? Sem comparação.

No entanto, não posso deixar de lembrar do poema que José Paulo Paes fez para Manuel Bandeira, que se autoproclamava um poeta “menor”. Que nada! Nada de poeta “menor”, podem apostar.

Segundo Paes, Bandeira sempre foi um poeta “menormenormenormenormenormenormenormenormenorme“.

Um dia eu ainda cresço e chego lá.

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JUNTANDO OS OSSOS


A VIDA EXPERIMENTAL DE ROBERTO PIVA

Este ano faz dez anos que ele nos deixou.

O poeta xamânico.

O poeta que eu chamo poeta do “&”.

Vida & Poesia & Tudo-o-Mais caminhando lado a lado.

O poeta que, em matéria de revolta, dizia que não precisava “de antepassados”. Porque “a minha vida & poesia tem sido uma permanente insurreição contra todas as Ordens”.

E afirmava: “Só acredito em poeta experimental que tenha vida experimental”.

Era o ano de 1987. Eu com 20 anos, morando no Recife, ganhei do amigo Jobalo a Antologia Poética de Roberto Piva. Uma cacetada. “Na esquina da Rua São Luiz uma procissão de mil pessoas acende velas no meu crânio”. Porra! “Há uma floresta de cobras verdes nos olhos do meu amigo”.

Preciso conhecer São Paulo.

Piva era São Paulo. São Paulo é Glauco Mattoso. Mas cadê coragem para chegar perto? Cansei de ver o poeta cruzando a Rua Augusta. Merda! Como a gente perde tempo! Piva aumentou o volume do meu grito. Um dia eu conseguirei abraçá-lo.

Aí a gente segue experimentando. Guiado por artistas como ele, que têm os pés suspensos, sonhando sobre os abismos.

Em 2006, com a criação da Balada Literária, o primeiro poeta que homenageamos foi Glauco Mattoso. Aí telefonei para Piva. Para ele ser o homenageado de 2007. Expliquei. Conversamos. “Você vem me buscar no dia da palestra, não vem?”.

Claro. Iria correndo, finalmente.

Piva, à época, já estava doente. Mal de Parkinson. Desde o dia em que falei com ele ao telefone, ele me ligava dia sim, dia não. “Eu tenho o teu nome aqui ao lado, anotado no papel. A homenagem está perto?”. Não estava. Coisa de uns três meses. Mas qual não era a minha alegria. “Alô, é Piva”. Uma vez, só para se certificar que tudo estava no lugar. Outra vez, para comentar uma poesia. Dizer das dores que sentia depois dos remédios.

Assim foi até a manhã de eu ir de carro buscá-lo para a Livraria da Vila. “Só peço que você não me apresse. Porque entro em pânico se apressam. Tenho, agora, um outro jeito de andar, de me equilibrar”.

Foram cinco dias inteiros em homenagem ao poeta da Poesia & Liberdade. À mesa de abertura, para conversar com Piva, estavam seus parceiros Glauco Mattoso, Cláudio Willer e Ronald Polito, além da participação especial de Paulo Scott.

Para essa segunda edição histórica da Balada vieram ainda Antônio Cândido, Fabiana Cozza, Mário Bellatin, José Luandino Vieira, Luis Fernando Verissimo.

Em seguida, ainda nos falamos ao telefone. Combinei com ele um reencontro breve para assinaturas. Acima, uma delas. Exatamente no exemplar que ganhei de presente, adolescente.

Três anos depois, participei de uma frente de apoio ao poeta, que estava hospitalizado. Fizemos um grande sarau para levantamento de grana.

Roberto Piva faleceu no dia 3 de julho de 2010.

Ficou em nós, permanente, o seu recado no ar: “fazer da anarquia um método & modo de vida / estradas / bocas perfumadas / cervejas tomadas nos acampamentos / Sonhar Alto”.

Sonhar & Resistir & Transformar.

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ENSAIOS DE IMPROVISO

A PÁGINA ESCRITA

Escrever não é só com palavra. É com espaço em branco. Respiração entre as linhas. Um abismo entre os parágrafos. Tem um jeito de a poesia, de o conto encontrar seu lugar na página. O texto fincado ali feito raiz, digamos. Você, escritor, escritora, é quem diz como quer deixar este corpo em pé. Vejamos: Raduan Nassar, por exemplo, escolheu espasmos. Períodos curtos. Em um único fôlego cada capítulo do Lavoura Arcaica. João Gilberto Noll, em Acenos e Afagos, quis o romance todo em um único parágrafo. Adília Lopes, ao que parece, prefere a maioria de seus poemas em letra minúscula, exceto a palavra que abre a leitura. E lembram quando Valter Hugo Mãe veio com romances sem nenhuma letra em caixa alta? Que rebeldia. Machado de Assis só faltou desenhar no meio dos romances. Matava personagem com anúncios necrológicos. Criador de micro-organismos. Recursos colhidos no seu mestre francês Xavier de Maistre. Leiam dele o Viagem à Roda do Meu Quarto. Não existe romance mais quarantenado. Eta danado! Peço que corram para ver idem como o poeta Herberto Helder espaceja os versos. E, recentemente, Aline Bei, se não fosse uma escritora obstinada, renderia-se ao conselho de uma editora. Pediu para que ela não fosse confundida com poeta. Seu livro, do jeito que está, não venderá. Isso porque no romance O Peso do Pássaro Morto, publicado pela ótima Nós Editora (sem nenhuma intromissão e que já vendeu mais de dez mil exemplares), o texto corre e não-corre, abrindo entre as frases um ritmo estético inconfundível e necessário. Lourenço Mutarelli, sobretudo em O Cheiro do Ralo, tem um jeito de separar os diálogos, de apresentar a fala do narrador. Perguntado sobre a forma que adotou, Mutarelli argumentou que estava, no seu primeiro romance, fazendo um texto em quadrinhos sem os quadrinhos. Daí aquele fluxo cortado. Tudo isso para dizer que encontre o seu jeito de livremente caminhar. Fazer o seu texto, em prosa ou poesia, ser o que se é. Só assim será.

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