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JUNTANDO OS OSSOS

20/05/2020 por MARCELINO FREIRE


A VIDA EXPERIMENTAL DE ROBERTO PIVA

Este ano faz dez anos que ele nos deixou.

O poeta xamânico.

O poeta que eu chamo poeta do “&”.

Vida & Poesia & Tudo-o-Mais caminhando lado a lado.

O poeta que, em matéria de revolta, dizia que não precisava “de antepassados”. Porque “a minha vida & poesia tem sido uma permanente insurreição contra todas as Ordens”.

E afirmava: “Só acredito em poeta experimental que tenha vida experimental”.

Era o ano de 1987. Eu com 20 anos, morando no Recife, ganhei do amigo Jobalo a Antologia Poética de Roberto Piva. Uma cacetada. “Na esquina da Rua São Luiz uma procissão de mil pessoas acende velas no meu crânio”. Porra! “Há uma floresta de cobras verdes nos olhos do meu amigo”.

Preciso conhecer São Paulo.

Piva era São Paulo. São Paulo é Glauco Mattoso. Mas cadê coragem para chegar perto? Cansei de ver o poeta cruzando a Rua Augusta. Merda! Como a gente perde tempo! Piva aumentou o volume do meu grito. Um dia eu conseguirei abraçá-lo.

Aí a gente segue experimentando. Guiado por artistas como ele, que têm os pés suspensos, sonhando sobre os abismos.

Em 2006, com a criação da Balada Literária, o primeiro poeta que homenageamos foi Glauco Mattoso. Aí telefonei para Piva. Para ele ser o homenageado de 2007. Expliquei. Conversamos. “Você vem me buscar no dia da palestra, não vem?”.

Claro. Iria correndo, finalmente.

Piva, à época, já estava doente. Mal de Parkinson. Desde o dia em que falei com ele ao telefone, ele me ligava dia sim, dia não. “Eu tenho o teu nome aqui ao lado, anotado no papel. A homenagem está perto?”. Não estava. Coisa de uns três meses. Mas qual não era a minha alegria. “Alô, é Piva”. Uma vez, só para se certificar que tudo estava no lugar. Outra vez, para comentar uma poesia. Dizer das dores que sentia depois dos remédios.

Assim foi até a manhã de eu ir de carro buscá-lo para a Livraria da Vila. “Só peço que você não me apresse. Porque entro em pânico se apressam. Tenho, agora, um outro jeito de andar, de me equilibrar”.

Foram cinco dias inteiros em homenagem ao poeta da Poesia & Liberdade. À mesa de abertura, para conversar com Piva, estavam seus parceiros Glauco Mattoso, Cláudio Willer e Ronald Polito, além da participação especial de Paulo Scott.

Para essa segunda edição histórica da Balada vieram ainda Antônio Cândido, Fabiana Cozza, Mário Bellatin, José Luandino Vieira, Luis Fernando Verissimo.

Em seguida, ainda nos falamos ao telefone. Combinei com ele um reencontro breve para assinaturas. Acima, uma delas. Exatamente no exemplar que ganhei de presente, adolescente.

Três anos depois, participei de uma frente de apoio ao poeta, que estava hospitalizado. Fizemos um grande sarau para levantamento de grana.

Roberto Piva faleceu no dia 3 de julho de 2010.

Ficou em nós, permanente, o seu recado no ar: “fazer da anarquia um método & modo de vida / estradas / bocas perfumadas / cervejas tomadas nos acampamentos / Sonhar Alto”.

Sonhar & Resistir & Transformar.

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