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LIVRO É SEMPRE UM PROBLEMA
Resolva o meu problema, ele pede. Daí a gente ajuda, é ou não é? É feito carro enguiçado. Eu, que não sei dirigir, presto socorro na hora de subir ladeira. Oriento. Mais para cá. Segura o pé, segura o breque. De olho na ré, na ribanceira. Se o problema for gasolina, a gente abastece. O melhor é não parar. É dar um gás. Aí a gente consegue montar o livro. E o problema vira outro. Para qual concurso mandar? E se eu não ganhar? Melhor mandar o original em um envelope diferente, o que acha? Nem branco, nem creme. Azul, mostarda. E você manda em pasta dourada. E não ganha. Daí bate no juízo a síndrome de gênio incompreendido. Ninguém me lê. Desisto. Para qual editora enviar? Algum amigo seu, por favor, será que poderia me publicar? A gente, de vez em quando, confiante mais do que o autor, fala para um editor. Pede uma atenção. A resposta demora. Mais um problema à vista. A cobrança vem justo parar no seu ouvido. Não seria o caso de telefonar? E se eu fosse lá, pessoalmente? Tenha paciência, a gente diz, paciente. Não seja o chato ou a chata que invade Facebook, descobre o whats do Schwarcz da Companhia. O endereço direto da Nós, da Todavia. Você manda, desesperado, PDF para tudo que é escritor, o escambau. Se for possível, dá uma olhada no meu original. Sem retorno. O inferno, caralho, são os outros. Quando você está pronto para fazer uma besteira, aparece alguém para publicar seu livro. Meio a meio. Tudo bem, desde que eu mesmo faça a capa. Porque além de escritor, você, é claro, se julga um grande ilustrador. Até diagramador. E a problemática aumenta. O desenho que você imaginava ficou um cocô. Tem ainda salvação? Quem chamar para escrever a orelha? E o prefácio? E o a gente literário? E o tradutor? E a distribuição? Por que meu livro não está na estante mais alta? Os prêmios, como fazer, me ajuda, meu irmão. Nenhum jornalista quis saber da minha obra. E agora? Antes de se sentir um completo fracassado, chega a você uma primeira reação. Um primeiro leitor elogia o seu trabalho. Surge, enfim, o tão sonhado resenhista. Você agradece. Mas já avisa. Tenho um outro livro pronto, engavetado. Muito melhor do que este que você leu. Quer dar uma lida? Quebra para mim, por favor, vai, esse galho. Fodeu.
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