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Era o ano de 2016.
No Facebook, o ator carioca Rodrigo França me escreve.
Diz um “Oi, Marcelino”, me parabeniza pelo Contos Negreiros (publicado em 2005) e me fala que ele e o diretor Fernando Philbert querem levar o livro ao palco.
Eu respondo sim e é sempre assim. Agradeço quando um ator, uma atriz, um grupo quer dar vida a algum texto meu.
“É seu o texto, amigo ou amiga, não mais meu”, costumo dizer.
Sei como é a luta. Sei como é a entrega.
Daí, um tempo depois, volta Rodrigo, agora ao telefone.
Não seria apenas uma peça. Seria uma ocupação inteira dedicada aos meus personagens no SESC Copacabana no ano de 2017.
Explico: à época, o diretor de programação do SESC, Paulo Mattos, foi procurado por três grupos cariocas com propostas de adaptação de meus contos.
Ele, a quem eu devo (devemos muito) por isso, resolveu então fazer uma mostra inteira.
Eta danado!
As três peças, BaléRalé, Contos Negreiros do Brasil e Um Sol de Muito Tempo, estrearam com sucesso e mantiveram temporadas isoladas depois do SESC.
Contos Negreiros viajou pelo Brasil, e para o exterior, colecionou prêmios e excelentes críticas, circulou por cidades do interior, fluminenses e paulistas, ocupou desde espaços alternativos a uma histórica apresentação no Theatro Municipal de São Paulo completamente lotado.
Um espetáculo que ganhou o boca a boca e foi aumentando a plateia e a repercussão urgentemente necessária (imagem acima).
Os contos que estão na peça, todos extraídos do livro, são acompanhados por estatísticas e números apresentados por Rodrigo França que, além de ator, diretor e escritor, é filósofo e cientista social.
Números, infelizmente, que a tragédia brasileira não cansa de atualizar.
No elenco (a quem celebro), além de Rodrigo, estavam Aline Borges e Milton Filho. Depois vieram, revezando-se e às vezes todos juntos, os atores Marcelo Dias, Mery Delmont e Valéria Monã (foto abaixo).
E essa trajetória não para.
Nesta sexta, amanhã, às 21h30, via SESC ao Vivo, em virtude do distanciamento imposto pela pandemia, haverá uma versão “monólogo” com Rodrigo França (segunda foto abaixo) e a presença on-line de todo o elenco.
Como será que ficará a versão?
Certeza tenho: a contundência continuará e a mesma profunda emoção.
É gratuito. É só chegar. Esperamos por vocês.
Valeu Rodrigo, valeu Philbert, elenco e produção e equipe pelo amor, parceria e confiança.
E ao público em geral, que fez e continua fazendo a história dessa peça, a minha eterna gratidão.
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