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Carlinhos Antunes é um grande músico. Um grande instrumentista. Um grande maestro. Um grande amigo. Caso não conheçam o trabalho dele, é só ir ao linque aqui e vejam o que ele faz, por exemplo, à frente da Orquestra Mundana Refugi. Pois bem. Carlinhos e Gabriel Levy me convidaram para participar de uma live (imagem acima) feita para apoiar a arte e seus criadores. Carlinhos me pediu um texto. Em vez de pegar algo que eu já tivesse escrito, me inspirei, a partir de uma música que ele me mandou, a escrever o poema que segue abaixo. A live vai ao ar às 21 horas desta quinta, dia 25 de junho, via página no YouTube do Estudio 185. Eu aparecerei em vídeo interpretando o que escrevi. Eta danado. Valeu e todos juntos e juntas dentro dessa mesma emoção e fui e aquelabraço.
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PARA DENTRO
[Texto inédito de Marcelino Freire]
mas a música não sempre foi
para dentro o pianista dobrado
a costela entre as teclas os ossos
dos dedos puxando as alavancas
e a percussão que vem de antes
da música existir o silêncio
que fazemos para ouvir o tempo
qual é o vosso espanto?
mas a dança não sempre foi
para dentro o bailarino arqueado
puxando pelos braços pondo
a ponta do pé para afundar
nos abismos um cego que abre
as frestas aéreas do pensamento
qual é o vosso espanto?
mas a poesia não sempre foi
para dentro o poeta o próprio
mistério entre as palavras um
viajante um camelo sem medo
buscando distante a fonte da água
na memória do esquecimento
qual é o vosso espanto?
mas o teatro não sempre foi
para dentro o ator a atriz
debaixo da luz na sub-sombra
alcança o olho de quem vê
a cena passe a perceber o seu
destino em equilíbrio suspenso
qual é o vosso espanto?
o som a dança o verso o drama o palco
o abraço que recebemos de todos
os artistas pela vida afora na hora
da morte no instante mais violento
o amor que acontece quando tudo para
por dentro a própria alma em movimento
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