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A LINGUAGEM DOS SINAIS
Hoje, na live com a poeta Tatiana Nascimento, ela falou da obsessão pelo uso do “y” (a conversa está arquivada no meu Instagram).
Exemplo: “planar é pouso / no meio do ar / y quem tá / com fôlego curto / precisa coragem de / mergulhar”.
O “y” substitui a letra “i”, sempre, para ligar a escrita de Tatiana aos hermanos latinos.
Eu aí disse para ela que via o uso do “y” como forquilha, dois ganchos abertos para o alto, uma antena na atmosfera.
Eta danado!
Citei o poeta Roberto Piva, que era obcecado pelo uso do “&”. Este sinal comercial em uma poesia, construída em São Paulo, que se queria xamânica.
A saber: “fazer da anarquia / um método & modo de vida”. Ou aqui: “Tarubá & você nunca / foi a Paramaribo”.
Penso em Osman Lins nos usos de flechas, hieróglifos, quadrados e triângulos e sinais de mais (+) antes da abertura de vários de seus parágrafos. Em uma espécie de uma comunicação filosófica e matemática com outros povos.
Será?
Isso me faz lembrar o escritor Qorpo Santo que troca, em toda sua obra, a letra “C” pela letra “Q”.
Ele que era também artista gráfico e tipógrafo lá pelos anos de 1800 e carambola.
Escrever é desenhar na página. Faz tempo que falo. E até, mais do que escrever, “inscrever”, “instaurar”, “fundar”, “fincar” no papel.
Nayara Fernandes, poeta piauiense, em seu livro Asas de Pedra, é exemplo de uma assinatura que se faz entres parênteses, chaves e colchetes: “enamore [tuas] sombras / sob a escuridão escrava / faça amor com [tua] alma”. Um verso que parece não voar o tempo inteiro: “vivo a felicidade fênix / [(re)feita] da dor do sangue / da cinza [(in)feliz]”.
O assunto é longo.
Quero ainda falar do uso de dois pontos (:) no título do livro Grande Sertão: Veredas, por exemplo.
Ou quando António Lobo Antunes abre mão do uso do ponto final e deixa sempre o parágrafo aéreo, flutuando, aberto para a próxima frase.
Considerações y questões que fi(n)cam para + tarde.
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PARA PENSAR ANDANDO
25/06/2020 por MARCELINO FREIRE