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Ele é Néstor Perlongher.
Lamê é um título que eu compraria. Digo o “título” mesmo, o “nome” do livro. Feito os sambistas compravam parcerias em uma criação.
Explico melhor: eu vivo comprando, imaginariamente, títulos de outros autores.
A saber, em resumo: eu escreveria um livro chamado Lamê.
Sim, lamê é o nome dado àquele tecido brilhoso ou cintilante. Palavra e tecido da minha infância. Junto a um perfume de alfazema, está feito o traje. Debaixo de sol pernambucano.
Perlongher é de uma sexualidade transbordante.
Nascido na periferia da Argentina em 1949, viveu em São Paulo, estudou e deu aulas na UNICAMP.
Escreveu vários livros de poesia: Evita Vive, Águas Aéreas e Alambres. Outros três títulos que eu compraria.
Quanto?
São dele também os livros de ensaio O Negócio do Michê (consultei para escrever Nossos Ossos) e O Que É AIDS, ambos publicados pela Brasiliense.
Néstor Perlongher faleceu em São Paulo em 1992.
Seu (meu) Lamê reúne uma mostra, bilíngue, de seis de suas obras (tradução de Josely Vianna Baptista).
Abaixo, segue a poesia Canto da Ilusão.
O bom da quarentena é a reordenação de nossas leituras-universos.
Amor e paixão.
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Escamas, redemoinhos, fervores me rodeiam…
“Mariri”, mãe da ilusão, em remoinhos te aproxima…
Estou na “mareação” com prazer, já fui embora, não desanimo, vou
com gosto, vou te fazer ver, vou te fazer vir, vem sem medo,
na mesma ilusão de prazer, que te faz ver coisas lindas.
A força que me faz ver almas como pó cai do meu lado…
Sente-se como um pássaro que perde suas penas…
Na casa da sucuri, na casa da sucuri, na casa da sucuri, o tigre pequenino
atirado do monte vem cair, atirado do monte vem cair, entra, o tigre,
o tigre na casa da sucuri, cai, entra, cai, entra, parece cabeças
verdes, cabeças verdes, cabeças verdes…
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