– Chegou mais um livro, é. Mais um pacote, é. Um envelope, é.
É o que mais ouço, é, pela manhã, quando adentra à sala a querida Suzana Serecé.
Eu não reclamo.
Fico triste quando, ave, não chega nada via correios.
Mas deve haver muita gente me odiando, creio. Porque não tenho tempo. Não dá para ler tudo. Coordeno dezenas de oficinas. E tenho de pôr em dia várias leituras.
Fora as minhas linhas, tadinhas, sempre deixadas para mais tarde.
Que merda! Argh!
No entanto, de quando em quando, um livro fura a pressa, a correria. Porque é o livro que nos pega na hora certa – ou incerta.
O livro tem seu próprio tempo. Chega chegando. Lamento quando não consigo olhar, atento, para uma determinada obra. Pelo fato de eu não parar quieto. Cristo!
Eu conto isto porque na minha viagem recente ao Rio, o autor carioca Rafael Sperling me entregou, pessoalmente, seu livro de estreia. Os contos de sua Festa na Usina Nuclear. Saído pela editora novinha em folha, a Oito e Meio.
Vim vindo de avião e rindo e curtindo a imaginação do Rafael. A graça com que ele segue fabulando, nomeando personagens. Sem delongas, sem “querer ser”. Naturalmente o texto dele desliza, ironiza. Quando conta de um casal pedindo um filho via delivery – um barato. Ou quando ele nos ensina a quebrar um ovo. E, até, quando exalta a palavra “puta”. Puta palavra!
Porra!
A literatura, com o livro do Rafael, não está mesmo morta. Eu é que, nessa correria, ando à boca do corvo. Morrerei sem ler os livros todos. Peço perdão. O que tem para hoje, Suzana?
– É, hein, hoje não tem nada na portaria, não.