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Archive for novembro \27\+00:00 2012

POR QUE A BALADA

Às vésperas da sétima edição da Balada Literária eu gostaria de deixar aqui um poema. Longo. Uma palavra, assim, na página. Uma celebração da poesia, da literatura. Eu gostaria de fazer diferente, hoje. Não falar da programação, que todo mundo já conferiu e pode conferir aqui no site. Eu queria uma razão do tipo: por que fazer um evento deste jeito, a duras batalhas. Na raça e na alma. Meu Cristo! Por isso, creio, escolhi o poema Auto-Retrato, abaixo, do baiano Fred Souza Castro. Explico: estive em Salvador em julho deste ano, sendo um dos jurados de uns editais de lá. Entre os livros que apareceram, veio um original do Fred. Ele, por unanimidade, recebeu a nossa aprovação. E louvação. Descobrimos que o grande poeta tinha 81 anos e morava no interior da Bahia. Quanta alegria a descoberta de um artista. Cheguei a fazer o convite para que ele viesse participar desta Balada. Estávamos acertando a vinda dele. Quando recebi a notícia, súbita, de seu falecimento. Daí, no domingo, dia 2 de dezembro, aviso: faremos uma homenagem à palavra dele, que tanto nos tocou. E que tanto nos tocará. A Balada Literária, pois, se existe, é por isto. Para espalhar a poesia, eternamente. Enquanto, aqui, a gente viver. Ao grande poeta, o meu abraço comovido. Estamos juntos. Para sempre, para valer.

AUTO-RETRATO

[ Fred Souza Castro ]

Sem casca sou
nascido

no imo do meu
umbigo
a cicatriz ainda

a voz pede licença
entre ruídos
e o corpo, menos que sombra,
escorrega pelo vazio

as mãos são costuradas nos bolsos
escondidos
e não saem senão para os castigos
ou para as exigências naturais
de trabalho,
de sexo,
de fome
e de outros humanos rituais

sou filho de pai morto
e ele vai
comigo

eu nunca sei de
mapas
nem destinos

espero sempre um punhal desconhecido,
por isso em minha carne tenho guizos
que me avisam de todos os perigos

gosto do sal,
de espelhos,
de relógios
(e peixes em aquários de cristal)
estes porque faturam meu passado;
os demais, escondidos, porque rios
e o sal porque me dá,
da eternidade,
o rumo certo
(e alguns certos desvios)

amo as paixões, os jogos, as querelas
e os trajes coloridos desta aldeia
e, embora creia em Discos Voadores,
não os espero além das sextas-feiras

temo, da morte, a negação da carne
e, da carne, o desgaste de vivê-la

eu não espero nada que não seja
com a surpresa do assalto e da peleja

não sei pedir nem esperar favores
e jamais trajaria de mendigo;
aos príncipes não sei tecer louvores
e as falsas dores, todas, abomino

estou à margem
e gosto de dizê-lo
para não enganar os falsos zelos
de quantos queiram me
incluir em esquemas

sou, a meu modo, livre
(por escolha)
e a folha
de papel em que me inscrevo
é outra que não eu,
que sou eu mesmo
guardado no meu corpo
e, a mim,
fiel.

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CONSIGA IR

São vinte autores reunidos – veja lista em folder ao lado.

Numa antologia que primeiro aconteceu nas paredes do SESC Santana.

Explico: os poemas e minicontos foram “escritos” (espalhados) por vários espaços da unidade – transpostos graficamente pela designer Valéria Marchesoni.

Agora a antologia sai impressa – numa espécie de guia de visitação da exposição.

Apareça para pegar seu autógrafo.

E para ler o “livro” – nas paredes e também no papel.

Esperamos por você. Veja se consegue ir.

Amanhã, quarta, a partir das 20 horas, no SESC Santana.

Aquelabraço e valeu e té.

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OUTROS OVOS NA BALADA

Sim, na frigideira britânica, vinte jovens já estão lá, dentro da revista Granta, ciscando aí pelo mundo. No entanto, não posso deixar de comemorar a antologia que vai sair do lado de cá, organizada pelos amigos Felipe Valério e Luís Rafael Montero. Trata-se da Granja, outros ovos, assim, para ficar em pé. Rarará. Ave nossa! Estou curioso para ver. Vejam abaixo trailer do projeto. O lançamento “mundial” acontece na Balada Literária 2012, dia 2 de dezembro, a partir das 14 horas, no b_arco. E vamos que vamos. E fui e aquelabraço.

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LYGIA NA BALADA

Eis abaixo esse depoimento lindo e histórico de nossa querida Lygia Fagundes Telles na Balada Literária de 2007 – ela que foi a homenageada da Balada Literária 2010. De alguma forma, Lygia, neste vídeo, convida e conclama a todos para a Balada Literária deste ano. Venha. E espalhe a notícia. E vamos que vamos.

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UMA PARADA PARA LEITURA

Aí eu disparo nessas minhas viagens. E em invenções e eventos. E em baladas atiradas, perdidas. Que as minhas leituras vão ficando sem tempo. A concentração de que preciso. Por exemplo: não tenho ido ao cinema. Como me fixar em alguma película com o juízo assim, disparado, a mil? Filmando tudo, de longe, sem descanso. Meu fôlego. Meu Cristo! Em dezembro, desapareço. E só volto pós-Carnaval. Mas enfim… O que eu quero dizer é que um livro me pegou de jeito, no meio deste tiroteio. E li num gole. As frases tocaram meu peito. Certeiras, no alvo. Falo do novo livro de contos da gaúcha Cíntia Moscovich. Vixe! A mesma sensação que eu tive quando li o romance Os Malaquias, de Andréa Del Fuego. A humanidade toda igualmente ali, nos parágrafos. Os grandes personagens, percalços. As ambientações, pulsações maduras. Título da obra: Essa Coisa Brilhante que É a Chuva. Editora: Record. Telefonei hoje para Cíntia. Mulher, não faz isto. Descortinar dores velhas. Famílias e mobílias. Ir por dentro das casas. Fazer nossa morada a morada de cada uma daquelas criaturas. Criadas e sustentadas por ela. Tão reais. Vivendo na infância, adolescência. No final da vida. Na descoberta das primeiras rugas, espelhadas. Cíntia chega plena a essas histórias. Mal resumidas aqui, por mim, é claro. Mas enraizadas em algum lugar de minha alma. Não duvidem. Clássicos de verdade. Aleluia. Escritor é aquele, sempre digo, que “inscreve”. Muito mais do que “escreve”. Saio dessa Chuva transformado. Tomado que fui, quem diria, no centro, em que estou, de uma tempestade. O banho de que eu precisava. Salve, salve!

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BALADA LITERÁRIA 2012

Plantada está. E não é de agora. Em mim esta vontade. De não apenas escrever. Mas de inscrever. Inaugurar, botar para fora. Instigar. Faz tempo que cisco as pás. Cavo. Adubo, repito: este desejo de ver a literatura crescer.

Mais um ano nesta luta. E fico feliz de ver o apoio que recebo de todas as frentes. E mãos. E almas ao sol. Agradeço, de coração, aos artistas todos, envolvidos. À força de toda a equipe. Moços e moças. Amigos. Incentivadores e leitores.

Tudo isto, assim, é para dizer que a programação do sétimo ano da Balada Literária já está no ar – valeu, Ana Peluso, que é quem cuida da página.

Vejam lá, divulguem e espalhem esta semente. E, é claro, compareçam para homenagear ao autor de Lavoura Arcaica. E para saudar a todos os que, aqui e ali, saem cultivando na gente as melhores palavras.

Enfim… Cliquem aqui em cima para conferir a programação completa. E mais não digo. Aquele beijo na flor do umbigo. E vamos logo à festa.

Fui.

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OUTRO MIA COUTO

Mia Couto falou comigo ontem ao telefone. Logo depois de ter estado no Sarau da Cooperifa. Disse-me ele: “um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida”.

E mais: me disse ele que agora era outro. Que levaria para onde fosse aquele acontecimento no peito. Agradecia por eu ter feito a ponte, digamos. Ter sugerido, assim, essa visita.

Todo escritor deveria, um dia, fazer o mesmo. Reparar na pulsação daquele lugar. Um sarau que celebra a poesia há 11 anos – aniversário comemorado exatamente ontem, em grande estilo.

Infelizmente, por estar viajando (escrevo direto de Aracaju), perdi de ver esse encontro histórico entre Sérgio Vaz e Mia Couto. Vaz que é leitor do Mia e me disse mais, também ao telefone, hoje: “tão bom saber que o cara é um dos nossos”.

Sim, o tipo de autor que pula fora dos parágrafos e vai ao coração do leitor. Eu também guardarei na memória esse instante: as palavras de Mia Couto, repito, ao telefone, carregadas de emoção, transformadas.

Eis a nossa salvação.

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EU NÃO SOU UM BUNDÃO

Ivam Cabral, vai. Diz que eu não sou um bundão. De que você é a minha inspiração e que eu sou um cara, assim, preocupado. Em interferir na paisagem da cidade. Ave! Com a minha arte.

Diz, Rodolfo García Vázquez. Que eu não sou um covarde. Não fico sentado, esperando. Por essa alegria imensa! De ter presenciado, por esses dias, a nova Praça Roosevelt tomada de energia e vibração. Quando um sonho gera realidade e transformação.

Fala, meu amigo Hugo Possolo, que eu não um bobo. Assim: bobo de bobão. Não estou falando: um palhaço. Ser palhaço não é ofensa. Eu quero que você diga que eu não sou um fracasso. Desses caras que ficam em casa. De alma encostada na redoma. E sem graça.

Eu quero ser dessa mesma família. Na raça. A de vocês. Gente como Sérgio Vaz que, ao lado da moçada da Cooperifa, está nesta semana tocando a Mostra de Artes da Periferia. A duras batalhas. Sai o poeta das páginas para ganhar as ruas.

Tento fazer isto com a minha literatura. Por exemplo, quando enfrento, a essas alturas, a sétima edição da Balada Literária – que começa dia 28 de novembro e vai até 2 de dezembro.

É em vocês todos que eu penso. E com quem compactuo. Dou um duro danado para não ser um bundão. Eu juro. Não é fácil. Com a ajuda de vocês, um dia eu chego lá, meus irmãos. Valeu, um beijão no coração e aquelabraço.

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